Capa do livro. |
Para Ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, fruto do período Allende no Chile, é uma contribuição ao reestudo e surgimento de outros trabalhos analisando o fenômeno das comunicações de massa. É um livro de alta qualidade, principalmente quando examina a influência exercida pelos produtos de Walter Disney na educação e no relacionamento social de crianças de todo o mundo. “Uncle Scrooge”, inspirado no célebre conto de Natal de Charles Dickens, foi rebatizado e se tornou o famoso “Tio Patinhas” no Brasil. Neste livro os autores desvendam a verdadeira face do Pato Donald, do Tio Patinhas e de toda a galeria de tipos da Disney.
A idéia de Dorfman e Mattelart era justamente denunciar a ideologia imperialista que dominava as aparentemente inocentes histórias infantis de Disney.
A primeira descoberta dos autores foi com relação à vida familiar. Não há nenhum vínculo familiar direto nas histórias de Pato Donald e Companhia. Todos são tios ou sobrinhos de alguém.
Além de não ter laços familiares diretos, os personagens são movidos apenas pela ambição do dinheiro. Não há relações de amizade desinteressada, apenas relações comerciais.
O livro é feito sobre o viés marxista. Já na introdução eles deixam claras suas posições, através da ironia: “Os responsáveis do livro serão definidos como soezes e imorais (enquanto o mundo de Walt Disney é puro), como arquicomplicados e enredadíssimos na sofisticação e refinamento (enquanto Walt é franco, aberto e leal), membros de uma elite envergonhada (enquanto Disney é o mais popular de todos), como agitadores políticos (enquanto o mundo de W. Disney é inocente e reúne harmoniosamente todos em torno de colocações que nada têm a ver com os interesses partidários), como calculistas e amargurados (enquanto que Walt D. é espontâneo e emotivo, faz rir e ri), como subversivos da paz do lar e da juventude (enquanto W.D. ensina a respeitar a autoridade superior do pai, amar seus semelhantes e proteger os mais fracos), como antipatrióticos (porque sendo internacional, o sr. Disney representa o melhor de nossas mais caras tradições autóctonas) e por fim, como cultivadores da “ficção-marxista”, teoria importada de terras estranhas por “facínoras forasteiros” renhidas com o espírito nacional (porque o tio Walt está contra a exploração do homem e prevê a sociedade sem classes no futuro).
A obra trata de temas como a falta de progenitores nos quadrinhos Disney, a relação com o universo feminino, a busca incessante das personagens pelo ouro, o dinheiro como fim último em praticamente todas as histórias, como são retratados os países para qual as personagens viajam entre outros. Muito válido para quem deseja conhecer um pouco mais do universo Disney e sobre a utilização de quadrinhos como meio de propaganda de ideologias.